A
vida de um leproso não era uma vida digna, era uma vida de humilhação e de
vergonha constante. A pessoa ao detectar as manchas sobre sua pele deveria
recorrer ao sacerdote para que ele a examinasse. O diagnóstico, como ordenava a
Lei, não era feito por um médico, mas pelo sacerdote. Caso a lepra fosse
detectada, o leproso passava por um processo de grande humilhação, devendo
rasgar suas vestes, enrolar um pano, colocar sobre os lábios superiores e ele
mesmo gritar para todos que era imundo. Perdia o convívio com os familiares,
perdia seu lar, deveria morar fora da cidade, longe das portas, e a cada pessoa
que dele se aproximasse deveria gritar sua vergonha: “Sou imundo, imundo,
imundo!”
Os
dez leprosos deste presente texto encontravam-se nesta situação. Situação
precária, situação de miséria, situação de desprezo um monturo de lixo
abundante. Suas chagas fediam, sua carne apodrecia, suas almas estavam
moribundas. Mas a resposta aos seus clamores estava a caminho. Jesus de Nazaré em
suas últimas semanas de vida terrena caminha ao encontro destes dez leprosos.
Indo para a cidade de Jerusalém, Jesus passa pela divisa de Samaria e da
Galiléia, vai ao encontro destes sedentos pecadores, doentes e necessitados.
DESENVOLVIMENTO
V.12:
Ao entrar no povoado os dez leprosos se dirigiram a Jesus, mas mantiveram certa
distância. Foram em busca de uma solução, reconhecendo seu problema e seu
devido lugar. Não ousaram se aproximar das pessoas, principalmente de Jesus, o
Mestre.
V.13:
Os leprosos utilizaram todas as suas forças físicas para gritar, clamar por
ajuda. Quando a narrativa conta que eles gritaram a Jesus, clamando piedade,
constatamos que se trata de uma oração; assim como fazemos hoje. Ao
reconhecermos um problema, uma dificuldade, corremos para Jesus e a Ele oramos,
pedimos insistentemente até recebermos; assim como fez Jairo. Se um filho fica
doente, corremos para Jesus. Se entrarmos em dívida, corremos para Jesus. Se
algo nos é furtado, corremos para Jesus. Jesus é a válvula de escape para todos
os nossos problemas. E não só pedimos de qualquer maneira, mas muitas vezes
utilizamos todas as nossas forças para orar, fazer campanha, levantar às
madrugadas, jejuar, não faltar aos cultos; parece que tentamos fazer uma
“barganha” com o Mestre.
V.14
a: Jesus nos impressiona com sua atitude: tendo poder para curar a todos,
envia-os aos seus respectivos sacerdotes. Provavelmente cada um era de uma
determinada cidade, já que as Escrituras fazem a diferença mencionando que um
deles era samaritano.
V.14
b: Esta passagem afirma-nos de forma indireta a sua fé. Nenhum deles questionou
o fato de Jesus não orar por eles ou algo semelhante, eles simplesmente creram
e foram. Ainda nesta passagem, notamos que à medida que cumpriram o que Jesus
determinara, crendo, receberam. Todos foram curados.
V.15
a: “Um deles, quando viu que estava curado, voltou”, imediatamente,
prontamente, no mesmo instante, voltou a Jesus. Mas não voltou de qualquer
jeito, voltou louvando a Deus.
Mas por que os outros não voltaram? Olhem que
grande lição este único homem nos dá:
- Todos oraram para pedir a bênção, mas só um
voltou a Jesus para louvar a Deus;
- Todos creram porque foram curados, mas só um
voltou a Jesus para louvar a Deus;
- Todos receberam a bênção, mas só um voltou a
Jesus para louvar a Deus;
- Todos os nove eram religiosos e foram
cumprir seus rituais, mas só um era espiritual e voltou a Jesus para louvar a
Deus.
Notem
que os nove leprosos acharam mais importante ir mostrar-se ao sacerdote, ou
correr para família ou algo parecido; mas só um compreendeu que ele já estava
diante do verdadeiro Sumo-Sacerdote.
Quantos
de nós estamos prontos a dobrar os joelhos e a clamar por socorro, mas quantos
de nós estamos prontos a voltar a Jesus e louvar a Deus? Quantos de nós temos
fé para receber a bênção, mas não temos fé para
ir além, navegar no espiritual e compreender o verdadeiro sentido de uma
bênção. Quantos de nós estamos tão preocupados com os rituais e nos esquecemos
e para encontrar com Jesus tem que ser no espiritual; a religiosidade, o
ritualismo, o legalismo sempre nos afastam do espiritualismo. Quantos de nós
recebemos a bênção e não rendemos o louvor necessário, de gratidão a Deus.
Aquele que é ingrato a Deus, negligencia a adoração ao Criador.
No
decorrer da narrativa, os demais leprosos desaparecem somente o leproso que
retornou é que foi contado. Aquele leproso voltou prontamente a Jesus, de forma
imediata ao recebimento da bênção ele adorou ao Mestre. Sua adoração é
ressaltada como sendo em “alta voz”, da mesma forma que clamou em alta voz, com
todas as suas forças, ele adorou em alta voz, também com todas as suas forças.
Quem de nós hoje tem a mesma disposição de pedir e agradecer? Será que temos
louvado a Deus da mesma forma que a Ele temos clamado? Será que quando dobramos
os nossos joelhos lembramos-nos de louvar a Deus? Será que quando lembramos
nossa oração não consiste em 1% de adoração e 99% de pedidos. Pedir não é
errado, o nosso próprio Deus nos ensina a pedir a Ele, a sermos dependentes
dele, mas qual é o pai que não se alegra com um filho grato e se entristece com
um filho ingrato? Meu Deus, que espécie de filhos temos sido para o Senhor?
No
v.16 o evangelista nos conta que o ex-leproso prostrou-se aos pés do Senhor
Jesus e lhe agradeceu. Quantas vezes eu me prostro para orar e pedir, mas não
me prostro para agradecer. Quantas vezes retenho o louvor e adoração que Deus
merece receber de meus lábios? Ah, Jesus, perdoa-nos tamanha negligência.
Neste
mesmo versículo vemos um detalhe interessante: o ex-leproso era samaritano, não
era judeu. Aquele que agradeceu igreja do Senhor, transpondo para os dias
atuais, não era crente, era ímpio. Não fazia parte do povo de Deus, era ainda
só uma criatura. Quantas vezes as criaturas de Deus se comportam de forma mais
grata do que os próprios filhos? Quantas vezes as pessoas que fazem campanha e
recebem as bênçãos retornam para agradecer e os filhos negam o louvor ao seu
Pai.
Notem
ainda a postura deste homem quando Jesus questiona sobre os outros não voltarem
para agradecer: ele permanece calado. Ele não utiliza seus lábios para se
engrandecer e dizer que só ele voltou, ou difamar a postura dos demais, não!
Ele permanece em silêncio, estava ocupado demais adorando a Jesus para ter
tempo de falar dos outros.
No
v.19 vemos a grande bem-aventurança daqueles que são gratos: “a sua fé o
salvou”. Para aquele que foi grato e voltou para adorar, teve um presente a
mais. Os demais perderam por não voltar, por não serem gratos.
Spurgeon
inspirado pelo Espírito Santo de Deus trabalha este tema grandiosamente, ele
afirma que a oração é para o tempo e o louvor é para a eternidade. A oração
ocorre mediante uma necessidade, mas no céu não haverá oração, somente louvor,
somente adoração, somente o nosso reconhecimento que não merecíamos estar ali,
mas Jesus nos deu esta oportunidade, Bendito é o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo.
CONCLUSÃO
Precisamos
aprender que muitos oram, muitos vivem de rituais, muitos crêem para receber e
muitos recebem as bênçãos, mas poucos voltam para agradecer, para se prostrar,
para adorar e louvar a Deus.
Como
Deus com tamanha santidade pode conviver com tamanha ingratidão. Ele nos
derrama um mar de bênção e retornamos a Ele uma gota de adoração. Quem somos
nós para cometermos tamanho crime contra o nosso Criador? Conta-nos a história
de um homem chamado Edward Spencer que olhava o revolto mar durante uma
tempestade e um navio próximo a praia lutando contra o vento e as gigantes
ondas, porém num determinado momento, o navio vira e começa a afundar. As
pessoas foram atiradas ao mar e afogavam-se. Edward rapidamente tirou suas
roupas e pulou no mar, conseguiu chegar no navio e retirar uma vida trazendo-a
à praia. Engoliu muita água, seu pulmão enchia de água, mas repetiu esta viagem
mais dezesseis vezes. Naquele dia ele salvou dezessete pessoas e quase perdeu
sua vida. Sua saúde nunca mais foi a mesma. Não conseguia pregar direito,
sentia falta de ar e teve por toda a vida, problemas pulmonares, o mais
incrível é que ninguém, ninguém, ninguém nunca o agradeceu, nenhuma das
dezessete vidas salvas. Após sua morte um leitor inquieto mandou uma carta para
a viúva questionando tal fato e como poderia viver com aquela situação e ela
lhe respondeu: não fazem pior com Jesus? Ele sendo santo não se fez pecador em
nosso lugar? Ele aceitou ser ridicularizado por aqueles que ele veio salvar,
aceitou ser cuspido, apanhar, ser ridicularizado e morrer por assassinos,
ladrões, prostitutas e até pelos escarnecedores? Jesus convive com a ingratidão
da humanidade, Jesus convive com aqueles que ele presenteia e não voltam para
agradecer, Jesus convive com aqueles que desprezam seu puro sangue derramado,
Jesus convive com uma humanidade coberta de lepra e que ignora quem pode
curá-las.
Meu
Deus ajuda-nos a compreender quem somos e quem o Senhor é para que ocupemos o
nosso devido lugar, que não é outro lugar,
senão aos teus pés lhe adorando. Rendamos hoje o sacrifício de louvor a
Deus, liberte-se de toda a ingratidão, Jesus é Deus, e tudo o que temos de bom,
tudo o que conquistamos, tudo o que alcançamos é por intermédio dele que
recebemos.
Obrigado
Jesus! Eu me prostro aos teus pés, eu te louvo e te adora, como um verdadeiro
adorador que te adora em espírito e em verdade.