terça-feira, 6 de abril de 2021

ESTUDO 46 DE LUCAS: A INGRATIDÃO HUMANA: SÃO MAIS OS INGRATOS DO QUE OS QUE LOUVAM A DEUS (LC 17.11-18)

  

            A vida de um leproso não era uma vida digna, era uma vida de humilhação e de vergonha constante. A pessoa ao detectar as manchas sobre sua pele deveria recorrer ao sacerdote para que ele a examinasse. O diagnóstico, como ordenava a Lei, não era feito por um médico, mas pelo sacerdote. Caso a lepra fosse detectada, o leproso passava por um processo de grande humilhação, devendo rasgar suas vestes, enrolar um pano, colocar sobre os lábios superiores e ele mesmo gritar para todos que era imundo. Perdia o convívio com os familiares, perdia seu lar, deveria morar fora da cidade, longe das portas, e a cada pessoa que dele se aproximasse deveria gritar sua vergonha: “Sou imundo, imundo, imundo!”

            Os dez leprosos deste presente texto encontravam-se nesta situação. Situação precária, situação de miséria, situação de desprezo um monturo de lixo abundante. Suas chagas fediam, sua carne apodrecia, suas almas estavam moribundas. Mas a resposta aos seus clamores estava a caminho. Jesus de Nazaré em suas últimas semanas de vida terrena caminha ao encontro destes dez leprosos. Indo para a cidade de Jerusalém, Jesus passa pela divisa de Samaria e da Galiléia, vai ao encontro destes sedentos pecadores, doentes e necessitados.

 

DESENVOLVIMENTO

            V.12: Ao entrar no povoado os dez leprosos se dirigiram a Jesus, mas mantiveram certa distância. Foram em busca de uma solução, reconhecendo seu problema e seu devido lugar. Não ousaram se aproximar das pessoas, principalmente de Jesus, o Mestre.

            V.13: Os leprosos utilizaram todas as suas forças físicas para gritar, clamar por ajuda. Quando a narrativa conta que eles gritaram a Jesus, clamando piedade, constatamos que se trata de uma oração; assim como fazemos hoje. Ao reconhecermos um problema, uma dificuldade, corremos para Jesus e a Ele oramos, pedimos insistentemente até recebermos; assim como fez Jairo. Se um filho fica doente, corremos para Jesus. Se entrarmos em dívida, corremos para Jesus. Se algo nos é furtado, corremos para Jesus. Jesus é a válvula de escape para todos os nossos problemas. E não só pedimos de qualquer maneira, mas muitas vezes utilizamos todas as nossas forças para orar, fazer campanha, levantar às madrugadas, jejuar, não faltar aos cultos; parece que tentamos fazer uma “barganha” com o Mestre.

            V.14 a: Jesus nos impressiona com sua atitude: tendo poder para curar a todos, envia-os aos seus respectivos sacerdotes. Provavelmente cada um era de uma determinada cidade, já que as Escrituras fazem a diferença mencionando que um deles era samaritano.

            V.14 b: Esta passagem afirma-nos de forma indireta a sua fé. Nenhum deles questionou o fato de Jesus não orar por eles ou algo semelhante, eles simplesmente creram e foram. Ainda nesta passagem, notamos que à medida que cumpriram o que Jesus determinara, crendo, receberam. Todos foram curados.

            V.15 a: “Um deles, quando viu que estava curado, voltou”, imediatamente, prontamente, no mesmo instante, voltou a Jesus. Mas não voltou de qualquer jeito, voltou louvando a Deus.

Mas por que os outros não voltaram? Olhem que grande lição este único homem nos dá:

- Todos oraram para pedir a bênção, mas só um voltou a Jesus para louvar a Deus;

- Todos creram porque foram curados, mas só um voltou a Jesus para louvar a Deus;

- Todos receberam a bênção, mas só um voltou a Jesus para louvar a Deus;

- Todos os nove eram religiosos e foram cumprir seus rituais, mas só um era espiritual e voltou a Jesus para louvar a Deus.

            Notem que os nove leprosos acharam mais importante ir mostrar-se ao sacerdote, ou correr para família ou algo parecido; mas só um compreendeu que ele já estava diante do verdadeiro Sumo-Sacerdote.

            Quantos de nós estamos prontos a dobrar os joelhos e a clamar por socorro, mas quantos de nós estamos prontos a voltar a Jesus e louvar a Deus? Quantos de nós temos fé para receber a bênção, mas não temos fé para  ir além, navegar no espiritual e compreender o verdadeiro sentido de uma bênção. Quantos de nós estamos tão preocupados com os rituais e nos esquecemos e para encontrar com Jesus tem que ser no espiritual; a religiosidade, o ritualismo, o legalismo sempre nos afastam do espiritualismo. Quantos de nós recebemos a bênção e não rendemos o louvor necessário, de gratidão a Deus. Aquele que é ingrato a Deus, negligencia a adoração ao Criador.

            No decorrer da narrativa, os demais leprosos desaparecem somente o leproso que retornou é que foi contado. Aquele leproso voltou prontamente a Jesus, de forma imediata ao recebimento da bênção ele adorou ao Mestre. Sua adoração é ressaltada como sendo em “alta voz”, da mesma forma que clamou em alta voz, com todas as suas forças, ele adorou em alta voz, também com todas as suas forças. Quem de nós hoje tem a mesma disposição de pedir e agradecer? Será que temos louvado a Deus da mesma forma que a Ele temos clamado? Será que quando dobramos os nossos joelhos lembramos-nos de louvar a Deus? Será que quando lembramos nossa oração não consiste em 1% de adoração e 99% de pedidos. Pedir não é errado, o nosso próprio Deus nos ensina a pedir a Ele, a sermos dependentes dele, mas qual é o pai que não se alegra com um filho grato e se entristece com um filho ingrato? Meu Deus, que espécie de filhos temos sido para o Senhor?

            No v.16 o evangelista nos conta que o ex-leproso prostrou-se aos pés do Senhor Jesus e lhe agradeceu. Quantas vezes eu me prostro para orar e pedir, mas não me prostro para agradecer. Quantas vezes retenho o louvor e adoração que Deus merece receber de meus lábios? Ah, Jesus, perdoa-nos tamanha negligência.

            Neste mesmo versículo vemos um detalhe interessante: o ex-leproso era samaritano, não era judeu. Aquele que agradeceu igreja do Senhor, transpondo para os dias atuais, não era crente, era ímpio. Não fazia parte do povo de Deus, era ainda só uma criatura. Quantas vezes as criaturas de Deus se comportam de forma mais grata do que os próprios filhos? Quantas vezes as pessoas que fazem campanha e recebem as bênçãos retornam para agradecer e os filhos negam o louvor ao seu Pai.

            Notem ainda a postura deste homem quando Jesus questiona sobre os outros não voltarem para agradecer: ele permanece calado. Ele não utiliza seus lábios para se engrandecer e dizer que só ele voltou, ou difamar a postura dos demais, não! Ele permanece em silêncio, estava ocupado demais adorando a Jesus para ter tempo de falar dos outros.

            No v.19 vemos a grande bem-aventurança daqueles que são gratos: “a sua fé o salvou”. Para aquele que foi grato e voltou para adorar, teve um presente a mais. Os demais perderam por não voltar, por não serem gratos.

            Spurgeon inspirado pelo Espírito Santo de Deus trabalha este tema grandiosamente, ele afirma que a oração é para o tempo e o louvor é para a eternidade. A oração ocorre mediante uma necessidade, mas no céu não haverá oração, somente louvor, somente adoração, somente o nosso reconhecimento que não merecíamos estar ali, mas Jesus nos deu esta oportunidade, Bendito é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

           

CONCLUSÃO

            Precisamos aprender que muitos oram, muitos vivem de rituais, muitos crêem para receber e muitos recebem as bênçãos, mas poucos voltam para agradecer, para se prostrar, para adorar e louvar a Deus.

            Como Deus com tamanha santidade pode conviver com tamanha ingratidão. Ele nos derrama um mar de bênção e retornamos a Ele uma gota de adoração. Quem somos nós para cometermos tamanho crime contra o nosso Criador? Conta-nos a história de um homem chamado Edward Spencer que olhava o revolto mar durante uma tempestade e um navio próximo a praia lutando contra o vento e as gigantes ondas, porém num determinado momento, o navio vira e começa a afundar. As pessoas foram atiradas ao mar e afogavam-se. Edward rapidamente tirou suas roupas e pulou no mar, conseguiu chegar no navio e retirar uma vida trazendo-a à praia. Engoliu muita água, seu pulmão enchia de água, mas repetiu esta viagem mais dezesseis vezes. Naquele dia ele salvou dezessete pessoas e quase perdeu sua vida. Sua saúde nunca mais foi a mesma. Não conseguia pregar direito, sentia falta de ar e teve por toda a vida, problemas pulmonares, o mais incrível é que ninguém, ninguém, ninguém nunca o agradeceu, nenhuma das dezessete vidas salvas. Após sua morte um leitor inquieto mandou uma carta para a viúva questionando tal fato e como poderia viver com aquela situação e ela lhe respondeu: não fazem pior com Jesus? Ele sendo santo não se fez pecador em nosso lugar? Ele aceitou ser ridicularizado por aqueles que ele veio salvar, aceitou ser cuspido, apanhar, ser ridicularizado e morrer por assassinos, ladrões, prostitutas e até pelos escarnecedores? Jesus convive com a ingratidão da humanidade, Jesus convive com aqueles que ele presenteia e não voltam para agradecer, Jesus convive com aqueles que desprezam seu puro sangue derramado, Jesus convive com uma humanidade coberta de lepra e que ignora quem pode curá-las.

            Meu Deus ajuda-nos a compreender quem somos e quem o Senhor é para que ocupemos o nosso devido lugar, que não é outro lugar,  senão aos teus pés lhe adorando. Rendamos hoje o sacrifício de louvor a Deus, liberte-se de toda a ingratidão, Jesus é Deus, e tudo o que temos de bom, tudo o que conquistamos, tudo o que alcançamos é por intermédio dele que recebemos.

            Obrigado Jesus! Eu me prostro aos teus pés, eu te louvo e te adora, como um verdadeiro adorador que te adora em espírito e em verdade.